segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Outro livro terminado!!

Depois de ler muitos elogios sobre o autor James Patterson resolvi ler um de seus livros, O dia da caça. O livro prende a atenção, mas acho que é forçar demais a barra, fazer um policial ir para um outro país, sem nenhum apoio, para apanhar um assassino e vingar a morte de uma ex-namorada. E como o pobre do personagem apanha, cheguei a pensar que ele não fosse sair vivo.
Quem sabe eu comecei pelo livro errado... já que existe uma série de livros com o detetive Alex Cross.


Resumo: Quando o detetive Alex Cross é chamado para investigar um caso de assassinato, depara-se com a cena de crime mais terrível que já viu em toda sua carreira: uma família inteira morta dentro de casa. Tudo fica ainda mais chocante quando ele descobre que uma das vítimas é Ellie Cox, sua ex-namorada dos tempos da faculdade.
Logo depois outro crime acontece, novamente envolvendo uma família inteira, só que dessa vez alguns membros dela estavam nos Estados Unidos e outros, na África. A investigação leva a crer que o assassino, conhecido apenas como Tiger, viajou para a Nigéria. Sem hesitar, Cross vai atrás dele.
Ao chegar lá, Cross se vê diante de um terrível cenário de miséria, violência e guerra civil iminente. Sem nenhuma ajuda, ele se envolve numa luta contra a corrupção e contra uma conspiração que parece não ter fronteiras, que pode pôr em risco sua vida e a de todas as pessoas que ele ama.



Finished it!!

Essa série (The Kelly International -KGI) eu comecei pelo segundo livro, depois li o terceiro, e só agora fui ler o primeiro. Acho que gostei mais da história do segundo livro, o personagem que mais me chamou a atenção foi o Garrett, mas quando li o livro sobre ele não gostei da história... Acho que a "desordem" na leitura teve esse efeito. Mas vou continuar lendo a série, gostei da escritora.

Resumo: Há um ano que o ex-soldado da marinha Ethan Kelly viu sua esposa, Rachel, viva. Tomado pela tristeza e pela culpa de suas falhas como marido, Ethan se afasta de tudo e de todos.
Seus irmãos tentaram trazer Ethan para o grupo KGI, tentaram atravessar as barreiras que ele construiu em torno de si, mas Ethan continuava sem dar uma resposta... até que ele recebe um bilhete anônimo dizendo que Rachel está viva.


Para salvá-la, Ethan terá que escapar de tiros, atravessar a floresta, se arriscando acabar como prisioneiro de um perigoso cartel de drogas que ameaça sua vida. E mesmo que ele consiga cumprir sua missão, ela terá que forçar Rachel recobrar as memórias que ela não quer reviver - minuto por minuto de sua hora mais terrível - pelo amor deles e suas vidas que dependem disso.

+++++ e+ aquisições!!!!





quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Lendo dois ao mesmo tempo!!

Resenhas ou comentários mais tarde!!

A mágica está em alta

História média. O personagem principal fica pensando muito, descreve muito, a ação mesmo só acontece no final. Não sei se vou continuar lendo a série. Foi mais uma leitura do feriadão com chuva!!

Se fosse possível viajar no tempo...

Foi o que li no feriadão, a primeira parte da história é a melhor, quando o mocinho viaja do século XVI para o século vinte porque escuta uma moça chorando. É divertido ver o choque cultural, mas depois é a mocinha que vai para o século XVI e enredo se torna um pouco chato.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Uma homenagem a Edgar Allan Poe




INTRODUÇÃO




                   A proposta dessa monografia está centrada na análise da construção e elaboração do tema do terror e do uso da linguagem em dois contos de um dos maiores escritores da literatura universal, Edgar Allan Poe. 
                   Considerado o pai da ficção científica, o criador das estórias de suspense, seu nome é freqüentemente associado aos contos de terror, sendo classificado como um escritor gótico. Mas o que é romance gótico? Gênero literário que surgiu na Inglaterra na metade do século XVIII. Dentro dessa literatura temos a figura de uma protagonista jovem e gentil atraída por um homem, mau e sedutor, um vilão; onde a estória se passa em lugares como castelos em ruínas, cavernas, celas , galerias, sepulcros, monastérios ou conventos. Quartos e salas com alçapões, passagens secretas, retratos que se movem e saem das paredes andando, esqueletos que se movimentam e fantasmas falantes.  Às vezes a heroína é salva da morte por um jovem e bonito herói, que surge no final do romance,  rico e heróico, e que por acaso do destino está à procura de uma esposa.
                   O romance gótico foi assim denominado após a publicação de The Castle of Otranto, Horace Walpole, 1764.  Essa obra foi muito criticada devido ao seu sensacionalismo, melodrama e tema sobrenatural.  A literatura gótica foi uma verdadeira decepção para o idealismo romântico dos poetas daquela época, para eles a personagem sentimental idealizada por Ann Redcliffe não transcederia para a realidade.
                   Ann Redcliffe foi uma romancista gótica que influenciou a literatura  do século XVIII, seu trabalho é marcado por explicações ingênuas utilizadas para provar a existência de algo sobrenatural, o que não deturpava a coerência de suas estórias, pois mesmo assim suas descrições eram capazes de cativar a atenção de seus leitores. Era capaz de unir cenas totalmente diferentes, como por exemplo, os raios de sol em uma floresta mesclados com escuridão das montanhas. Seu mais conhecido romance foi The Mysteries of Udolpho, 1794.
               Em 1815, o gênero começa a desaparecer e com a publicação do livro Melmonth the Wonderer, de Charles Maturin's, chega ao seu fim.
                   Edgar Allan Poe pode ser considerado um escritor pós-gótico, ou seu melhor contribuidor, tanto no que diz respeito ao estilo gótico tradicional quanto na evolução deste estilo, capaz de transformar uma simples estória de terror em  uma experiência psicológica.   Foi um respeitado editor, crítico mordaz, porém mais conhecido como um mestre dos contos de terror dentro da literatura universal.
                   Deixou um legado de contos, ensaios, poemas, críticas e artigos.  Foi fonte de inspiração para autores como Mallarmé, Stephen King, Arthur Rimbaud, Arthur Conan Doyle, Jorge Luís Borges, Baudelaire, H.P. Lovecraft, Júlio Verne,  Dostoiévsky, entre outros. 
                   Seus contos, assim como sua poesia,  possuem ritmo e efeito  precisamente calculados para prender a atenção dos leitores.  Através dos recursos estilísticos utilizados em seus poemas Poe criava suas estórias em forma de poesia, ainda que macabras, que se transformaram na marca registrada de seu escritor.
                   Os dois contos escolhidos para esta monografia são: The Tell-Tale Heart e The Pit and the Pendulum onde o tema recorrente é o terror.
                   Em  The Tell-Tale Heart a análise sobre a construção e perspectiva de um olhar aterrorizante é baseada no livro O Olhar, uma coletânea de discursos, ensaios e conferências, que abordam questões sobre o olhar nas artes plásticas, cinema, filosofia, arquitetura e literatura. Os ensaios reunidos neste volume fornecem subsídios teóricos fundamentais para a análise deste conto de Edgar Allan Poe.
                   Nesse conto o terror externo é o assunto principal, sob a forma de um olho, o medo é apresentado através da narração do protagonista, que acredita ser o olho algo diabólico e o verdadeiro culpado pelo seu crime. A expressão terror externo é utilizada nesta monografia como parte de caracterização da construção da perspectiva do terror feita por Poe, que ora opta por realçar o pânico gerado por uma força externa ao personagem, ora um medo que surge internamente no personagem. Daí a opção por destacar situações em que o terror tem origem de um elemento externo ou interno em relação ao(s) personagem(ns).
                   O foco do conto “The Pit and the Pendulum” também é o terror, porém, um terror interno.
                   Um personagem preso pela Inquisição descreve seus temores e a agonia diante da espera da própria morte.  Aqui o medo está configurado na forma de um calabouço escuro e, depois, na de um pêndulo de metal.
                   A análise em “The Pit and the Pendulum” está norteada pelos estudos de Michel Foucault em seu livro “Vigiar e Punir”, um estudo científico sobre a história da legislação penal e de vários métodos punitivos usados em nome da lei para  castigar aqueles que vão contra a sociedade e suas regras.  De acordo com esse autor, os castigos e punições variam de acordo com a época em que são aplicadas, desde castigos físicos até os sistemas penitenciários modernos.
                   Com o objetivo de tornar mais clara a linha de análise adotada nesta monografia estão incluídos comentários a respeito da Inquisição, bem como do romance gótico, assuntos que concernem diretamente aos dois contos abordados.



1. The Tell-Tale Heart:  A construção de um olhar aterrorizante

                   Edgar Allan Poe é conhecido por desenvolver seus contos abordando o tema  do terror, do medo e do fantástico.  Esse terror não é construído apenas através de personagens problemáticas ou cenas que cronstruam situações de medo, mas todo um conjunto, ou seja, lugares comuns que podem se transformar em cenário macabro e fatal para as personagens - caracterizadas inicialmente como simples indivíduos, as quais, no decorrer da estória, acabam se transformando em criminosos loucos e obsessivos, como em The Black Cat, Berenice, e obviamente, em The Tell-Tale Heart, cuja abordagem do tema do terror é realizada através da construção de um olhar aterrorizante, um olhar diabólico, segundo a perspectiva do próprio protagonista.
                   Trata-se da temática de como uma mente aterrorizada pode afetar a percepção da realidade pelo indivíduo. O conto explora a forte conexão entre as percepções físicas e os sentidos não físicos durante o transcorrer da narrativa causando tensão e agonia.
                   A crença na existência de um olhar diabólico é muito antiga, cuja origem  encontra-se na Grécia Antiga e em Roma. Também é muito comum na Índia e em países próximos ao mar Mediterrâneo.  Essa crença pode ser encontrada nas religiões judaica, islâmica, budista e hindu, e há a crença de que algumas pessoas possuem  um “olho diabólico”, que lhes confere poder sobre outros indivíduos, sendo capazes de atingir qualquer um apenas com um jeito de olhar. E esse tipo de “mal olhado” é popularmente conhecido como o responsável pelo surgimento súbito de doenças e fatalidades.
                   Em casos extremos, acredita-se que o olho deve ser destruído, a fim de impedir a propagação do mal. Uma vez destruída a suposta causa da desventura, esta desaparecerá.
                   Uma lenda folclórica eslava conta a estória de um pai que cegou-se por medo de machucar seus filhos com seu olho diabólico.
                   Conforme essa crença, a personagem do conto talvez esteja enfatizando a necessidade de destruir o olho diabólico eliminando, dessa forma, o mal.
                   A descrição feita por este mesmo narrador  sobre um olho que é coberto por uma cor azulada, algo diferente e que desperta o medo e o terror, é a causa de sua fobia, a mesma capaz de invocar seu lado negro, enlouquecendo-o até a única solução: o assassinato.      
                   Quais e quantos elementos são necessários para a construção deste olhar aterrorizante?  De acordo com o ensaio “A construção do olhar” de Fayga Ostrower,  ela acontece  da seguinte forma:

“Fornecendo as imagens para a nossa imaginação, o espaço se torna o mediador entre a experiência e a expressão.  Só podemos mesmo pensar e imaginar mediante imagens de espaço”[1]

                   Mas antes de fornecer essas imagens para a nossa imaginação é necessário ver.  E assim, ao ver a imagem do olho diabólico a personagem reagirá, claro que de uma forma negativa, como é o caso de The Tell-Tale Heart.
                   Em  uma casa, dentro de um quarto, em um pequeno cômodo, o terror começa a ser construído pela imagem de um velho e seu olhar.  Em um  pequeno espaço delimitado  pela narração do protagonista, o terror adquire forma:
“... só podemos perceber formas, ou ordenações que sejam delimitadas. O que não conseguimos delimitar, nem conseguimos perceber”[2]
                       
                   Uma vez delimitadas as imagens ao nosso redor, tomamos conhecimento de sua existência, ver é ter conhecimento.  A personagem passa a conhecer o medo ao apreender a imagem do olho diabólico. A perturbação causada pelo olhar do velho sobre o assassino, pode ser analisada por outra perspectiva, o medo provocado pelo olhar seria por ele, o protagonista, ver o mal dentro de si próprio.
                   De alguma forma o protagonista sentia-se exposto como se o olho soubesse sobre sua verdadeira natureza, sobre o mal que havia dentro dele. 
                   Todas as noites essa sensação repetia-se, tornando-se cada vez mais forte, transformado-se em obsessão.  Criando sua própria verdade: o olho como fonte do mal devia ser eliminado. Essa verdade vai de encontro a um dos trechos do livro “O olhar” no qual Platão é citado:

“Segundo o platonismo: “a verdade passa a depender de um certo cultivo da visão, o que se vê deve ser bem ordenado, deve-se saber”[3]

                   No conto essa visão não é cultivada pelo protagonista, o mal é centrado na vitíma, do ponto de vista do assassino, ele é a vítima e precisa  defender-se. Seu alvo não é um homem, mas sim o que ele possui, um objeto maléfico e dominador:

“A essência do olhar não consegue ir além do conflito, por quanto transforma o outro necessariamente em objeto - ainda que o revide seja possível,  e o olhar mais forte do outro inverta a relação e me transforme em objeto.  Por outras, objetivando, o olhar passa a ser uma forma de dominação” [4]

                   A personagem se deixa levar por esse objeto, a imagem do mal criada pela sua visão distorcida e uma mente obssessiva, provando a teoria de Padre Vieira de que a visão humana é limitada, vendo aquilo que quer apenas, levando a uma outra questão:  não se deve acreditar em tudo o que se vê.

“O “ver”, empregado por Vieira dessa maneira, indicaria, portanto, uma espécie de abandono do intelecto e da disposição para conhecer em favor do deslumbramento ligeiro propiciado pelo rebuscado formal e pela fofoca.  “Ver” estaria ligado a uma certa leviandade de que não parecia poder ou querer livrar-se, à época, o auditório dos fiéis.
... Deixar-se conduzir pelos olhos, nesse contexto inicial das colocações de Vieira, significaria estar à mercê das aparências, ser preso pelo brilharico mundano como de xadrez de palavras.”[5]
                       
                        A personagem tenta desesperadamente enfatizar sua suposta inteligência e sagacidade.  Com o objetivo de mascarar seu crime e sua  loucura como algo verdadeiramente importante, ele esforça-se, talves também para convencer-se, de que suas atitudes derivam de razões equilibradas e sensatas.  O que na verdade ele chama de “inteligência”,  é  apenas fruto de sua insanidade e fixação obsessiva. 

“... very dreadfully nervous I had been and am; but why will you  say that I am mad? The disease has sharpened my senses - not destroyed - not dulled them...”[6]

                    A doença acima citada nada mais é do que o excesso de emoções não controladas, sendo o nervosismo uma delas, e responsáveis também pela confissão do crime contra um homem indefeso.
                   A personagem é um modelo de contradições.  Após cometer o crime, o fator preocupante não é a possibilidade da existência de uma testemunha ou surgimento da  polícia, que fazem com que a personagem confesse, mas sim sua própria consciência.  Mesmo possuindo uma simpatia pelo velho homem, o protagonista planeja como matá-lo.  A personagem não passa de um homem louco que tenta mostrar-se lógico e racional, que acredita piamente ter matado apenas o olho diabólico e não uma pessoa, ou seja, acredita não ter cometido crime algum, seu medo estava voltado para o olhar diabólico somente:

“I loved the old man.  He never wronged me. He had never given  me a insult.  For his gold Ihad no desire...” [7]

                   Com a idéia fixa em sua mente, a personagem passa a vigiar sua vítima e a narrar  a maneira inteligente como  faz isso:
“Oh, you would have laughed to see how cunningly I thrust it in! I moved it slowly - very, very slowly, so that I might not disturb the old man's sleep.  It took me an hour to place my whole head within the opening so far that I could see him as he lay upon his bed. Ha! - would a madman have been so wise as this?”[8]
        
                   Quanto mais indefesa a vítima, maior a sensação de poder em nossa personagem:

“Never before that night I felt the extent of my own powers - of my sagacity. I could scarcely contain my feelings of triumph.”[9]

                   O velho sentia-se aterrorizado com a vigilância da qual agora era objeto, quem sabe ele já não havia notado a loucura do homem que tomava conta dele? Provavelmente, sim.  Podemos acreditar nessa possibilidade ao seguir as palavras de nossa personagem:

“It grew quicker and quicker, and louder and louder every instant.  The old man's terror must have been extreme!”[10]
                  
                   O terror sentido pela vítima fez com que as batidas de seu coração acelerassem, aumentando o estado de nervo do criminoso, que quase desistiu de seu plano, mas o som das batidas do coração o fizeram mudar de idéia:
“Yet, for some minutes longer I refrained and soot still.  But the beating grew louder, louder! I thought the heart must brust. And now a new anxiety seized me  - the sound would be heard by a neighbour!”[11]

                   A razão descrita no conto pelo protagonista é a sua inteligência, sabedoria e esperteza, usadas para justificar seus atos, que não são nada normais, beiram sempre o exagero, e são esses atos exagerados que o transformam em uma pessoa desequilibrada, louca.
                   Aqui, loucura e razão são a mesma coisa, o que irá estabelecer a diferença entre elas será o ângulo pela qual serão observadas. Através dos olhos do protagonista é a expressão da razão, quando olhar é do leitor, este vê, constata apenas a loucura do narrador.







1.1  O olhar vigilante em The Tell-Tale Heart



                   A sensação de estarmos sendo observados é capaz de mudar nosso comportamento.  Ao sentir que somos privados de nossa liberdade nossos gestos e atitudes se modificam totalmente.  De alguma maneira somos controlados, vigiados.
                   O olhar vigilante produz medo. O medo de ser observado  sem poder observar, dá ao espírito de nosso inimigo poder sobre o nosso, de acordo com o princípio da masmorra, que é justamente o de privar-nos da luz e conseqüentemente de nossa capacidade  visual, tornando-nos refens daqueles que estão fora desta masmorra e podem observar-nos  e manter sobre nós um controle pleno, como nos mostra o texto abaixo:

“O princípio da masmorra é invertido, ou antes, de suas três funções - trancar, privar de luz e esconder - só se conserva a primeira e suprimem-se as outras duas.  A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia.  A visibilidade é uma armadilha”[12]


                   Por medo desse poder dado ao olhar vigilante e a intensa sensação causada por ele, a personagem sente-se ameaçada pelo terror de ser acompanhada para onde quer que vá por aquele olho diabólico.  É esse terror que levará a personagem a praticar seu crime, que para ela nada mais é do que uma forma de defesa.  Porém essa maneira de se defender é apenas uma desculpa para seu futuro ato.
                   Através de seu relato a personagem tem como seu maior objetivo provar que não está louca, e que é um ser muito inteligente, sua maior preocupação não é provar sua inocência, mas sim sua sanidade.
                   Quanto mais o protagonista afirma não ser louco, mais forte se torna a impressão  contrária. A idéia de vigilância dada pelo olhar maligno do velho deveria, supostamente, cessar com a morte deste.  Porém,  não é o que acontece, a idéia de vigilância continua a perseguir o assassino que embora afirme que nem mesmo o olhar maléfico do velho poderia ter detectado algo errado no que ele fazia, continua a sofrer o olhar de sua própria consciência, que se apresenta agora sob a forma nào mais do olhar do velho, mas sim pelo som  imaginário das batidas do coração do morto.

“Then I replaced the boards so cleverly, so cunningly, that no human eye - not even his - could have detected any thing wrong.”[13]


                   A loucura pode ser apenas uma questão de ponto de vista, uma maneira pela qual direcionamos nosso olhar.  Afirmando que os outros são loucos e nós não, podemos desviar  o olhar de nossa própria loucura, apontar a existência do mal em outras pessoas que nos faz acreditar que somos bons e que estamos com a razão.

“Uma das coisas que eu mais desejaria dizer sobre a loucura é que não tenho nada a ver com isto.  Seria muito conveniente poder afirmar - você é louco; eu não sou louco. Parece que a loucura se presta a essa colocação de alguma coisa própria indesejável no outro. De alguma forma, declarar que você é louco, e eu não , parece mais uma solução de compromisso do que uma constatação de verdade, parece mais um grito do que uma convicção” [14]


                   Ao apontar o mal nos outros, ou melhor, no olho diabólico, o protagonista do conto além de “assumir” sua loucura, passa de vigiado  aquele que vigia.  Ao planejar seu crime é necessário observar o velho, para  saber se o olho do mal continua a espreitá-lo, também é preciso ver se não tem ninguém olhando, um vizinho curioso, por exemplo.
                   É importante notar que mais uma vez, ao mudarmos a perspectiva do olhar, encontramos uma nova situação, uma inversão de papéis.
                   Além dessa mudança da direção do olhar, a loucura do protagonista, de acordo com o trecho do livro O olhar, acima citado, sua declaração realmente  parece mais um grito do que uma convicção.  Esse fato pode ser claramente observado já no início do conto, com o destaque dado a palavra TRUE, escrita com letras maíusculas e em negrito, aumentando a força e o sentido da palavra:

TRUE! - nervous - very, very dreadfully nervous I had been and am; but why you will say that i am mad?”[15]

                   No conto a loucura versus a razão é uma presença muito forte.  Então seria  importante tentarmos entender o que é loucura. 
                   A definição correta para a palavra loucura segundo o dicionário Michaelis, seria um problema mental que, sem a pessoa afetada estar ciente de seu estado, seu comportamento é totalmente modificado, ela torna-se irresponsável, opde ainda ser demência, psicose ou insensatez.
                   Durante um longo período na história da humanidade, até o final do século XVI para ser mais preciso, onde se tornava difícil a distinção sobre o que significava sonhar ou “estar louco”, e que genialidade  e loucura eram conceitos interligados, algo muito semelhante ao comportamento da personagem:

“Now this is the point. You fancy me mad.  Madmen know nothing. But you should have seen me.  You should have seen how wisely I procceded - with what caution - with what foresight - with what dissimulation  went to work!” [16]


                   Segundo um dos entrevistados do livro O que é loucura, seu autor João Frayze Pereira, obteve a seguinte declaração:

“Talvez os loucos saibam olhar o mundo com os olhos da realidade.”[17]

                   Uma declaração no mínimo curiosa quando falamos do protagonista do conto, talvez seus olhos vejam a realidade, porém essa realidade não seja e mesma para outros. 
                   Ainda citando João Frayze Pereira: os loucos não são homens que perderam a razão, mas animais dotados de uma ferocidade natural que precisa ser fisicamente coagida.  Mais uma vez a personagem se encaixa no perfil citado, essa ferocidade é facilmente percebida na atitude tomada por ela, o crime.
                   O medo, a escuridão,  a presença constante do elemento diabólico e o crime hediondo são os elementos góticos que criam esse ambiente de loucura.
                   A forma externa do mal e desencadeadora da loucura é representado pelo olho diabólico, assim como o som das batidas do coração da mente, que o protagonista acredita ver e ouvir.
                   O elemento gótico que sempre, ou na maioria das vezes, é utilizado para criar uma atmosfera de clausura e perseguição, assume em The Tell-Tale Heart uma outra forma, a loucura.
                   O conto observado com os olhos do leitor possiu toda a forma da loucura, mas do ponto de vista do narrador é a própria razão que guia seus passos, sua inteligência evitou que o mal contido no olho do velho homem se propaga-se.  Contudo, foi a sua “razão” a responsável pela mudança em sua personalidade, a transformação de uma pessoa normal em um assassino. 
                   Razão e loucura seriam as duas faces de uma mesma moeda.   Seria verdade então que o “sonho da razão produz monstros”, segundo o pintor espanhol Francisco de Goya?  Ao acreditar na existência do mal em um olho humano, o protagonista transformou esse fato em uma realidade totalmente sua, fazendo surgir o seu lado mal, com a forma de um assassino, ou em outras palavras, um monstro.
                   Por enxergar uma verdade que pertencia somente em seu mundo fantasioso, em sua mente fértil, acabou despertando o monstro que pode existir dentro de cada um de nós, que espera apenas por um simples  ou pequeno motivo, observado em algum momento de nosso cotidiano, porém que seja pertubador o suficiente a ponto de causar uma grande mudança em nossa personalidade.
                   O ato de observar ou de ser observado pode ser o começo de sensações desagradáveis como o medo e o terror,  capazes de provocar reações inesperadas, como nos mostra o conto The Tell-Tale Heart.
                   O mal esta presente internamente no protagonista. Interessantemente este mal não se apresenta de uma forma visual como é o caso do olho diabólico do velho.  Temos aqui um paradoxo, qual é o verdadeiro mal, aquele se pode ver ou aquele que está oculto?
                   Embora, durante todo o transcorrer da narrativa haja um enfoque no aspecto visual, o mal, aqui caracterizado pela loucura da personagem, vai apresentar-se como elemento visual apenas quando ocorre o assassinato do velho.   É preciso que este ocorra para que haja a visualização  do mal.


1.2  A linguagem do conto The Tell-Tale Heart



                   Um assassino, um narrador sem nome que tenta convencer os leitores sobre sua estória e sobre sua inocência, mesmo depois de matar um velho o qual tomava conta e que até gostava de sua vítima.  Ele cometeu o crime apenas por causa do olho diabólico, e a prova de que ele não é um homem louco é a sua inteligência.
                   Esse tipo de narrativa de acordo com Norman Friedman, onde a ação relatada pela personagem, mostra o EU enquanto protagonista, ou seja, a ação é relatada pela própria personagem que vivenciou os fatos.  Este recurso usado pelo autor transmite e intensifica  a sensação de terror, a impressão causada  pela narração parece ser a mesma que o protagonista sentiu.

“With the shift of the narative burden from a witness to one of the chief personages who tells his own story in the first person, a few more channels of information are given up and a few more vantage points are lost.  Because of his subordinate role in the story itself, the witness-narrator has much greater mobility and consenquently a grater range and variety of sources of information than the protagonist proper, who is centrally involved in the action.  The protagonist-narrator, thererfore, is limited almost entirely to his own thoughts, feelingsm, and perceptions.  Similarly, the angle of view is that of the fixed center.
And  since the protagonist-narrator can summarize  or present directly in much the same way as the witness, the distance may be near or far, or both.”[18]

                   A personagem mostrada como protagonista dá ao leitor apenas um ponto de vista para ser julgado, não há a interferência de outras personagens, a estória inteira está focada no protagonista.  A relação é exclusivamente entre a personagem e o leitor, essa proximidade intensifica todas as sensações do protagonista para o leitor, tornando-o quase um cúmplice.
                   Forma e sonoridade estão presentes nos poemas de Edgar A. Poe assim como em seus contos aqui analisados.
                   The Tell-Tale Heart possui em sua estrutura: aliteração, repetição e rima interna; de acordo com os exemplos a seguir:

“And every night, about midnight,...” [19]

“- nervous - very, very dreadfully  nervous...”[20]

“I moved it slowly - very, very  slowly, ...”[21]

“I undid the lantern cautiosly - oh, so cautiosly - cautiosly...”[22]

                   A ação acontece sempre à noite, por volta da meia-noite, dando a idéia de escuridão, um dos elementos góticos.  Mesmo sem a presença de castelos, ruínas ou masmorras, o ambiente descrito passa a idéia de um lugar afastado e velho, onde não há luz, apenas a noite.
                   O espaço é uma casa fechada, onde moram apenas duas pessoas, um velho e a pessoa que toma conta dele. A descrição da casa causa nos leitores o efeito de claustrofobia, um espaço pequeno e escuro.
                   Parágrafos curtos e longos são intercalados sem a presença de diálogos, na verdade um monólogo da personagem.   Este monólogo é mais um recurso utilizado por Edgar Allan Poe, não apenas para salientar a cúmplicidade com o leitor, mas também enfatizar o aspecto do louco que fala mais consigo mesmo, do que com o mundo externo.
                   A palavra very constantemente surge no texto, para reforçar, ampliar uma idéia, aumentando cada ação, cada movimento do assassino, evidenciando suas atitudes exageradas.
                   Nota-se o uso de travessões no lugar das vírgulas, assim como a presença de palavras terminadas em ly  causando a sensação de eco, de algo prolongado durante a leitura do texto. O uso constante da terminação ly formando advérbios de modo, também transmite a idéia de relato, de “como” o crime foi praticado.

“When I had waited a long time, very patiently, without hearing him lie down.  I resolved to open a little - a very, very little crevice in the lantern. So I opened it - you cannot imagine how stealthily, stealthily - until, at lenght, a single dim ray, like the thread of the spider, shot from out the crevice and full upon the vulture eye.”[23]

                   Observa-se um grande uso de adjetivos para descrever sensações, e para criar o ambiente adequado ao clima de terror presente no conto. Assim como muitos travessões e pontos de exclamação, dando ao conto forma e cadência diferentes:

“One of of his eyes resembled that of a vulture - a pale blue eye, ...”[24]

“So I opened it - you cannot imagine how stealthily, stealthily - until , at lenght, a single dim ray , like the thread of the spider, shot from out the crevice and full upon the vulture eye.”[25]

“It was a low, dull, quick sound - much such a sound as a watch makes when enveloped in cotton.”[26]

                   Palavras como  night, dark, black e darkness são muito utilizadas e passam ao leitor  a imagem de uma noite sem fim, aumentando o clima de terror.

“It is impossible to say how first the idea entered my brain; but once conceived, it haunted me day and night.” [27]
“... calling him by name in a hearty tone, and inquiring how he had passed the night.” [28]

“Upon the eighth night I was more than usually cautious in opening the door.”[29]

“He was still sitting up in the bed listening; - just as I have done, night after night, hearkening to the death watches in the wall.”[30]

“The night waned, and I worked hastily, but in silence.”[31]

“His room was as black as pitch with the thick darkness...” [32]

“... in approaching him, had stalked with his black shadow before him, ...” [33]

“... it was four o'clock - still dark as midnight.” [34]


                   O mal é descrito sempre com vários adjetivos, tornando o ar denso.  O terror, que é um estado de grande pavor, um grande medo, domina o conto do começo ao fim.
                   Nos dois últimos parágrafos  torna-se evidente pelo uso de travessões no  lugar das vírgulas e pontos de exclamação,  um ritmo mais intenso em comparação ao início do conto, com paradas ritimadas que lembram as batidas de um coração.  Algo que parece ser feito de propósito, já que depois de livrar-se do olho demoníaco, o que passa a atormentar o assassino é este som.  Para o leitor fica claro que este  apenas na  mente do protagonista. 
                   Seria sua consciência? Tudo indica que sim.  A medida que o som das batidas aumentam, seu medo de ser descoberto aumenta também.  Quando chega ao seu limite, a personagem confessa sua culpa aos policiais.
                   O assassino, aquele que possui uma mente fértil e influenciável, é sempre controlado pelo medo. Ora pelo medo que sente do olho diabólico, ora pelo medo causado pelo som das batidas do coração de sua vítima.  O tema medo também é focado pelo uso de palavras relacionadas a este tema:
                  
“Presently I heard a slight groan, and I knew it was the groan of mortal terror”[35]

“The old man's terror must have been extreme!”[36]

                   Essa batida ritimada pode ser sentida pelo leitor nas linhas do conto a partir de seu sugimento.
“I knew that sound well too. It was the beating of the old man's heart. It increased my fury, as the beating of  a drum stimulates the soldier into courage.”[37]
                   Antes mesmo de matar o velho o som é percebido pelo protagonista, que acreditava ser a causa do grande terror sentido pela sua vitíma ao perceber que seria assassinado.  O som abafado das batidas param quando o velho fecha para sempre seus olhos, mas persistem na mente do assassino fazendo-o acreditar que o barulho era externo e não interno.
                   A sua loucura passa a ser instigada não pelo sentido da visão mas sim pelo sentido da audição.
                   A insistência da personagem em provar sua inocência faz apenas com que os leitores acreditem no contrário, seu terror e sua loucura são muito mais importantes do que o próprio crime.  É a teoria de Poe a respeito dos efeitos de um conto sobre  os leitores, mais uma vez presente.  Duas personagens, um lugar simples como uma casa, um homem que será a vítima, mas o verdadeiro efeito é a impressão do medo e do terror para aqueles que lêem a estória.
                   O efeito do terror aparece no conto de três formas diferentes:

1 - o protagonista nos mostra a figura de uma vítima assustada pela sua furia;
2 - o terror que o assassino tem do olho diabólico;
3 - e o terror que está por vir: a possibilidade de outros descobrirem seu crime.
                  
         No primeiro caso o terror da vítima é causado pelo seu carrasco que o observa.  O segundo ocorre quando o assassino sente que suas ações são observadas pelo olho diabólico, e finalmente o terceiro: o terror de alguém que é observado por outros olhos, olhos estes que sabem do seu segredo.
         Seria válido também destacar a importância dos sentidos, visão e audição, pois os dois assumem a posição de vigilantes dentro do conto.
         A não utilização de nomes sugre uma generalização, qualquer  pessoa pode se transformar em um assassino, o mais pacato dos mortais quando se sente ameaçado, institivamente procura se defender, transformando-se, mudando completamente sua pesronalidade.
         Todas as personagens em The Tell-Tale Heart não possuem nomes, são indivíduos comuns até o momento que o escritor puxa um fio, o fio da suspeita de estar sendo observado por parte do protagonista, que descreve a existência do olho do mal, para que o fantástico assuma seu lugar dentro do conto, deixando de lado o simples e o comum na vida das personagens.
         Personagens comuns, lugares comuns.  São esses os principais elementos que Poe usa como base para elaborar seu conto.  Essa simplicidade aparente mais adiante será contrastada com o fantástico, o olho diabólico e o terror que ele provoca na vida de duas personagens, para criar o efeito de medo para aqueles que lêem a estória.
         Utilizando o recurso de escrever a estória sob a perspectiva do assassino, o autor cria uma situação onde o protagonista relata um acontecimento pessoal causando maior impacto durantes a narrativa.
         Esse recurso amplia o efeito de terror é continuamente exibido ao leitor que durante sua narração permite um contraste entre a ânsia de negar sua loucura com a forma inteligente que ele elaborou e executou seu plano.
         Poderíamos classificar The Tell-Tale Heart na categoria do terror gótigo, devido a presença do estranho e da presença do sobrenatural.
         A morte, um tema constante nos contos de Edgar Allan Poe, nessa estória surge mais vez como um recurso para criar o horror. Qual o ser humano que não tem medo da morte? É um assunto inesgotável para qualquer discussão, imagine então em um conto de terror.  Seja o fato da morte estar rondando ou cercando alguém, como é o caso do pobre homem velho, que sente a morte e não sabe como ela vai chegar, ou quando ela realmente acontece pelas mãos  protagonista narrador.
         O  detalhe realista dado ao conto com a utilização de um lugar comum, como uma casa habitada por duas pessoas, que normalmente passaria desapercebida, quando colocado em um ambiente gótico, escuro e fechado, torna-se mais forte,  ganhando destaque, mostrando-se diferente para os leitores do conto.
         A preocupação com o tempo que se esgota por parte do velho não é a mesma que possiu o assassino:

“A watch's minute hand moves more quickly than did mine.”[38]

“... a low, dull, quick sound, such as a watch makes when enveloped in cotton.”[39]

“When I had made an end of these labours, it was four o'clock - still dark as  midnight. As the bell sounded the hour, there came a knocking at the stret door.” [40]

                   A morte e o agente responsável por esta são enfatizados com a uso de letras maíusculas, dando-lhes mais destaque e funcionando como indicadores do que é apresentado no decorrer do conto, o mal que através de um olho pode causar a morte, como mostram esses dois trechos de The Tell-tale Heart:
“ - but I found the eye always closed; and so it was impossible to do the work; for it not the old man who vexed me, but his Evil Eye.”[41]


All in vain; because Death, in approaching him, had stalked with his black shadow before him,  and  enveloped the victim.”[42]


2.  The Pit and the Pendulum: A perspectiva do pânico e da tortura

                   Edgar Allan Poe já foi considerado por alguns como um escritor simples e sem profundidade, mas essas mesmas pessoas perceberam a intensidade de The Pit and  the Pendulum na época em que foi publicado. A história de  uma pessoa vítima da Inquisição espanhola, de seu terror e atrocidades.
                   Para entender melhor o drama dessa personagem são importantes algumas explicações e fatos sobre o sistema de condenar e punir os homens em uma das épocas mais negras da história.
                   No final do século XV, início da época moderna, foi criada na Espanha uma instituição, inspirada nos moldes de outras que funcionaram na Europa durante a época medieval: o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição.
                   Embora possuíssem muitas das características da Inquisição durante a Idade Média, os Tribunais da Península Ibérica tinham características e técnicas próprias.  Seus atos cruéis e desumanos podem ser comparados com o nazismo no século XX.  Espanha e Portugal foram os protagonistas da perseguição às heresias durante a época moderna.
                   O alvo da Inquisição eram as minorias (judeus e mouros) que eram expulsas, convertidas ou julgadas e condenadas pelos Tribunais da Inquisição.
                   Mesmo sendo numerosos e influentes os judeus nunca conseguiram dominar politicamente a Espanha como fizeram os mouros.
                   Por trás da Santa Inquisição havia a questão política. Ao assumirem o trono, os Reis Fernando e Isabel, precisavam recuperar dinheiro para os cofres públicos que estavam vazios.  Sob pretexto religioso a Inquisição foi apenas uma forma de  livrar-se das minorias indesejáveis e confiscar seus bens.

“Noutras regiões da Europa, o restabelecimento da tortura ocorreu durante uma época em que, tecnicamente, a tortura nunca deixara de ser utilizada no direito de certas regiões da Espanha, especialmente em Castela.  Embora o Corpus Iuris Civilis pareça não ter influenciado a Espanha visigótica, o antigo Codex Theodosianus fê-lo e as suas causas relativamente à tortura eram numerosas. A  tortura sobreviveu no direito castelhano, apareceu de um modo bem visível no Fuero Juzgo de 1241 e ocupou um lugar proeminente na sétima partida de Las Siete Partidas de Afonso X, em 1265.  Em Aragão, pelo contrário, foi abolida em   1235.”1
                  

                        Talvez a escolha de Toledo como pano de fundo para conto se deva ao fato da força da Inquisição no lugar.
                   A personagem em The Pit and the Pendulum, não explica quais os motivos que o levaram para a prisão, mas apenas conta a sua experiência nas mãos de seus carrascos:

“... I saw - but with how terrible an exaggeration! I saw the lips of the black-robed judges.  They appeared to me white - white than the sheet upon which I trace these words - and thin even to grotesqueness; thin with the intensity of their expression on firmmess - of immovable resolution - of stern contempt of human torture.” 2

“To victims of its tyranny, there was the choice of death with its direst physical agonies, or death with its most hideous moral horrors.  I had been reserved for the latter”  3

                        Durante o conto a realidade vista através dos olhos da personagem são consideradas pela própria como um sonho, delírio e loucura, sua impressão sobre o tempo é quase nula.
                   Esse pano de fundo cria a atmosfera para que a personagem através de seus pensamentos passe para o leitor o drama e a tensão contidos na estória.  Esse conto de Edgar A. Poe nos coloca diante de sensações de claustrofobia, de tornar-se vítima, de restrição e paranóia, além de uma total falta de esperança, mas com um final surpreendente: a salvação do protagonista.
                   Assim como as torturas sofridas pelo protagonista, a história da humanidade  está repleta de fatos reais sobre pessoas torturadas com requintes de crueldade, ainda hoje considerados assombrosos:

“Na verdade , o objetivo era privar o preso de qualquer possibilidade de negar sua confissão. Pois embora uma confissão não fosse em si suficiente para assegurar a condenação, era porém de acordo com a doutrina da Inquisição, a pedra fundamental da prova, regina probationum. O acusado que negasse sua culpa não podia ser executado.  Como regra, certamente, a tortura assegurava a obtenção das confissões necessárias, mas não podia impedir que o acusado, uma vez terminada a tortura, se retratasse de suas declarações, afirmando serem elas falsas e obtidas por meios violentos.” 1


“O carrasco tirou do braseiro a primeira tenaz em brasa a abriu seis enormes feridas nos braços e no dorso de Paulus Pappenheimer, que deu urros terríveis de dor.  Num instante o carrasco tinha o outro par de tenazes em sua mão e impunha o mesmo castigo cruel a Gumpprecht.  Assim, todos os criminosos foram  punidos, um após o outro. Finalmente, o carrasco cortou os seios de Anna...” 2


                   Esses são alguns exemplos, havia ainda outros tipos de tortura, como por exemplo,  amarrado a uma cama  de ripas, o acusado tinha partes do corpo esticadas, esse instrumento de tortura chamava-se potro. Um sistema de cordas e roldanas que suspendia o prisioneiro até uma certa altura, a polé, onde freqüentemente, as vítimas tinham seus braços e pernas quebrados depois de horas e horas de tortura. Não havia limites na imaginação e requintes de maldade quando se tratava de torturar.  Essa severa punição corporal chamada suplício, era tudo que o produzia dor intensa, violenta e duradoura no corpo.
                   O suplício da cruz, nome dado a um dos modos da pena de morte, muito comum entre vários povos antigos que consistia em pregar ou atar o delinqüente em um cruz,ou ainda o suplício da roda, onde o condenado era amarrado em uma cruz em forma de X, quebrar-lhe os membros com uma maça de ferro e ligar o corpo assim desconjuntado a uma roda que se fazia girar. Um outro suplício era conhecido como: suplícios eternos, em outras palavras, as penas do inferno.  Mas antes de ser mandado para o inferno atravésde todos esses suplícios o condenado era julgado em um auto-de-fé.

“The condemnend to death, I knew, perished usually at the auto-da-fés and one if these had been on the very night of the day of my trial. Had I been remanded to my dugeon, to await the next sacrifice, which would not take place for many  months.”[43]

                   Esse espetáculo de horror acontencia em enormes festas populares.  Os autos-de-fé eram públicos ou particulares, esse último era reservado para casos especiais, como o julgamento de alguém pertencente à alta nobreza.  Os autos públicos não eram realizados com muita freqüência, acontecendo apenas uma vez por ano devido aos altos gastos envolvidos.
                   Os autos-de-fé duravam o dia todo, chegando as vezes a virar a noite, terminando apenas no dia seguinte. Cada vez mais o evento parecia uma festa do um julgamento, devido a mão de obra e gastos para sua realização. Estavam sempre presentes o rei e sua corte.  Pessoas de fora da cidade após assitirem ao auto-de-fé  saiam indignados com aquela exibição de mal gosto. 
                   De acordo com seu livro A Inquisição, a autora narra os seguintes comentários:

“Durante o auto-de-fé, os réus ouviam suas sentenças.  Os condenados a morrer na fogueira, depois da cerimônia eram transportados para o lugar onde se erguia o queimadeiro.
O auto-de-fé começava com uma procissão seguida de uma missa .  O sermão tinha uma importância toda especial, e o pregador era sempre escolhido entre os mais distinguidos membros do clero.  Apesar de esses sermões serem dirigidos contra os hereges em geral - inclusive os sodomitas, feiticeiras, bigamos, etc. - é sempre o judeu que aparece.  Os sermões foram agentes de propaganda eficientes inculcavam na massa da população não apenas o ódio aos cristãos-novos hereges, mas o ódio aos judeus e à religião judaíca.[44]


                   Vigiar não era suficiente, era necessário punir.  Através de castigos corporais, que muitas vezes levavam suas vítimas à morte, era a maneira que a lei dos  homens encontrou para punir.
                   No conto, o protagonista está preso em um calabouço, onde há um buraco coberto pela escuridão, do qual ele consegue escapar por  muito pouco. Seus carrascos não possuem rosto, são figuras indefinidas que surgem para arrancar confissões dos acusados, sejam eles inocentes ou não.
                   O espaço ocupado pelo protagonista é descrito com muitos detalhes, fornecendo a imagem de um lugar pequeno e escuro, de como é sufocante, trabalhando dessa maneira outras sensações além do terror, como a claustrofobia, por exemplo.

“... o isolamento dos condenados garante que se possa exercer sobre eles, com o máximo de intensidade, um poder que não será abalado por nenhuma outra influência; a solidão é a condição primeira da submissão total” [45]

                   Esse isolamento, essa sensação de claustrofobia, é mais uma forma de torturar, aqui a solidão é o castigo aplicado sobre o condenado tornando-o submisso. Uma vez que suas vítimas estão em seu poder, os carrascos se aproveitam  esse momento de fraqueza para arrancar-lhes a confissão.  Sentindo-se sozinha e desamparada, a vítima entrega seu corpo e seus pensamentos ao seu algoz.  Os acusados de heresia eram isolados duas vezes. A primeira vez era isolada da sociedade, quando esta tomava conhecimento de seu envolvimento com bruxaria ou qualquer outro crime condenado pelo Santo Ofício, e a segunda quando era acusado e preso em dos calabouços, sendo afastado de vez da sociedade.  Para muitos era algo definitivo, pois sabiam que após o julgamento só havia a morte.


2.1  Análise  de “The Pit and the Pendulum” norteada pelos estudos de Michel Foucault


                   Através dessa análise é possível notar que a punição através da tortura  foi e é um método utilizado pelo homem, de acordo com sua própria época para mostrar a todos que não se adequavam ao sistema, o quanto isso era errado e perigoso. Violência física e psicológica fazem parte dessa história.

“... a tortura (violência física para arrancar uma verdade que, de qualquer maneira, para valer como prova, tem que ser em seguida repetida, diante dos juízes, a título de confissão “espontânea”).  No fim do século XVIII, a tortura será denunciada como “gótica”. É verdade que a prática da tortura remonta à Inquisição, é claro, e mais longe ainda do que os  suplícios dos escravos.”[46]


“Desde que a Idade Média construiu, não sem dificuldade e lentidão, a grande procedura do inquérito, julgar era estabelecer a verdade de um crime, era determinar seu autor, era aplicar-lhe uma sansão legal.”[47]

“Pena corporal, dolorosa, mais ou menos atroz (dizia Jaucourt); e acrescentava:
“é um fenômeno inexplicável a extensão da imaginação dos homens para a barbárie e a crueldade.”[48]
                  

                   Esse fenômeno está presente em The Pit and the Pendulum, a capacidade humana em imaginar formas de tortura e colocá-las em prática contra outros é algo que sempre chama a atenção.  Crimes cometidos contra a humanidade em grande escala como a  Inquisição, mostra apenas um dos vários capítulos dessa história de atrocidades e torturas através dos tempos.
                   São elaboradas as mais requintadas, outras nem tanto, formas de  tortura contra o próximo, por razões sociais e políticas de cada época.
                   Não apenas é utilizada a tortura física como também a tortura psicológica.  O primeiro, é lógico é através dos maus-tratos do corpo:

“O corpo encontra-se aí em posição de instrumento ou intermediário; qualquer intervenção sobre ele pelo enclausuramento, pelo trabalho obrigatório visa privar o indivíduo de sua liberdade considerada ao mesmo tempo como um direito e como um bem.  Segundo essa penalidade, o corpo é colocado num sistema  de coação e privação, de obrigações e de interdições.  O sofrimento físico, a dor do corpo não são mais os elementos constitutivos da pena.  O castigo passou de uma arte das sensações insuportáveis a uma economia dos direitos suspensos.”[49]

                        É sob esse sistema de coação e privação que a personagem  narra suas experiências nos calabouços da Inquisição, onde as sensações de dor e de fraqueza o acompanham durante o conto, tanto o sofrimento físico quanto o seu lado psicológico começa a ser afetado, com alucinações e estados de semi-consciência. O prisioneiro recebe pouquíssima alimentação, sua água parece conter algum tipo de droga que o mantém sonolento.
                   Através dos castigos impostos ao corpo, os que punem querem chegar até a mente e a alma de sua vítima, conseguindo assim sua confissão, independente de sua veracidade.

“A punição vai se tornando, pois a parte mais velada do processo penal, provocando várias conseqüências; deixa o campo da percepção quase diária e entra no da consciência abstrata;  sua eficácia é atribuída à sua fatalidade não à sua intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar o homem do crime e não mais o abominável teatro; a mecânica exemplar da punição muda as engrenagens.”[50]


                   Acreditando que o medo inspirado pela Inquisição e seus métodos de tortura, a igreja realizava esses julgamentos e autos-de-fé, com o propósito de salvar as almas perdidas.  A punição não era velada, muito pelo contrário, quanto maior a propaganda dos castigos e penas aplicados nos hereges, maior o poder que medo incutido nas pessoas poderia causar, aumentando dessa maneira sua obediência.  Desviar o homem do crime sim, mas de maneira pomposa, nada discreta. Assim os autos-de-fé tornaram-se verdadeiros acontecimentos festivos.

2.2  Linguagem e estrutura do conto The Pit and the Pendulum

“Impia tortorum longas hic turba furores
Sanguinis innocui, non satiata, aluit.
Sospite nunc patria, fracto nunc funeris antro,
Mors ubi dira fit vita salusque patent.”[51]
                  
                   Na primeira página do conto é essa quadra em latim composta para as portas de um mercado no terreno do Clube dos Jacobinos, em Paris,  chama a atenção para o tema da tortura como um crime contra inocentes, abordado na estória.
                   O sentimento de injustiça contra o prisioneiro, personagem principal desse conto, está destacado já na quadra acima ao citar os inocentes mortos pela Inquisição, e continua durante a leitura do conto quando o protagonista consegue escapar da morte não uma, mas três vezes da morte.  Lembrando as vitímas da guilhotina que eram libertadas quando a lâmina falhava. Em uma época qual acreditava-se que  quando a guilhotina não cumpria a sua tarefa, era um sinal dos céus para dizer que a pessoa era inocente. Levando em consideração esse fato, a persongem  de The Pit and the Pendulum, é realmente mais um inocente que caiu nas mãos da Inquisição.
                   De acordo com  a tradução da quadra que significa exatamente o seguinte:

“Aqui, a multidão ímpia dos carrascos, insaciada, alimentou sua sede violenta de sangue inocente.  Agora, salva a pátria, destruído o antro do crime, reinam a vida e a salvação onde reinava a cruel morte.”

                   Podemos supor que a personagem seja um,  entre os milhares de judeus perseguidos durante a Inquisição na Espanha.
                   Muito antes dessa perseguição sangrenta acontecer, os judeus viviam em paz com as religiões existentes naquela região.  Os judeus frequentavam normalmente as festas cristãs, como casamentos e batizados, sendo as vezes convidados a cantar  suas ladainhas durante enterros.  E casamentos entre cristãos e judeus eram comuns.
                   Porém um Concílio reunido em 1215, baixou uma lei obrigando os judeus a usarem um símbolo que os distinguissem dos cristãos, mas a ordem não foi cumprida    nem em Portugal e nem na Espanha.
                   Essa tolerância entre as duas religiões foi interrompida pela Igreja, que liderava um movimento contra os judeus acusando-os de todos os problemas presentes  na sociedade da época, essa campanha anti-judeus demorou a surtir efeito, porém esse cenário foi se alterando durante o século XIV:

“No decorrer do século XIV, gradativamente aumentaram os pedidos de restrição as atividades dos judeus. Estes eram freqüentemente acusados de ocuparem as posições mais importantes que deviam aos cristãos.  As condições haviam mudado, e os judeus não eram mais necessários para preencher a camada intermediária entre a massa popular e as elites dirigentes.” [52]

“As únicas pessoas que pareciam estar num grupo à parte eram os judeus. Estavam notavelmente ausentes do mercado no seu sabá; porém nào era apenas isso que os separava do resto da comunidade.  A lei da Igreja determinava que deviam usar, roupas grosseiras com um círculo vermelho no peito; os homens eram proibidos de aparar a barba, e por isso tinham um aspecto desleixado.  Os mouros de Castela não eram constrangidos por  essas leis, pois tinham poderosos aliados islâmicos no exterior,...
Os judeus não tinham igual apoio, de modo que não somente eram confinados aos bairros mais pobres de cada cidade, como também impedidos de praticar as habilidades pelas quais haviam sido famosos nos tempos dos mouros.  Em face da degradação, os judeus se retiraram para a vida nos guetos.”[53]

                   Muitos judeus para escaparem da morte procuravam o batismo, esse fenômeno ocorreu apenas na Espanha, não há relatos de algo parecido em algum outro lugar onde a Inquisição foi instalada. 
                   Mesmo convertidos esses judeus não conseguiram escapar da perseguição da Igreja:

“Dá-se então na Espanha, um fenômeno que foge completamente às suas tradições de tolerância e coexistência. Em 1449, em Toledo, irrompe um massacre dirigido exclusivamente contra os conversos.  Nenhum judeu foi tocado.  A primeira medida tomada foi a de eliminar os judeus convertidos das corporações profissionais.
É este o início de uma política racista que procurava justificativas acusando todos os conversos de serem falsos cristãos, mas que na verdade nasceu do conflito entre  a burguesia cristã-velha e a burguesia cristã-nova, sendo portanto um fenômeno da cidade, burguês.  Várias leis discriminatórias passaram então a vigorar na Península Ibérica e no seu vasto império até o século XIX.” [54]

                   Com todas esses fatos é realmente possível acreditar que o protagonista possa ser um judeu e inocente, o lugar escolhido, a cidade de Toledo localizada em dos lugares da Europa onde a força de Inquisição foi enorme e duradoura, a Espanha, é um deles.

“This I at once saw could not be. Victims had been in immediate demand.  Moreover my dungeon, as well as all the condemmed cells at Toledo, had stone floors, and light was not altogether excluded.”[55]

                   Os elementos góticos estão presentes na descrição do calabouço, uma cela fria com pouca luz,  e um final feliz, que costumam aparecer nesse gênero literário.
                   Quais seriam as definições de tortura para o autor? Para historiadores sociais a tortura era pura brutalidade e sadismo incontidos. Qual então o significado da palavra tortura de acordo com a história? A claustrofobia seria um dos significados, assim como a presença constante da morte dentro de um calabouço.

“Nas fontes latinas e vernáculas, os termos utilizados são tortura, quaestio, tormentum e, ocasionalmente, martirium, cuestion, questione,question. Em alemão, a forma latina Tortur era utilizada com menor frequência do que a palavra indígena alemã Folter, e outros termos designavam Marter e peinlich Frage (de questio),; em francês, além de la question, eram utilizados ors termos  gehine ou gene (de Gehenna). Além disso, a maior parte dos vernáculos europeus desenvolveram idiomas especializados para descrever formas particulares de tortura, muitos deles eufemismos.  No século XIII, quando adquiriu forma uma doutrina jurídica específica da tortura, os especialistas puderam enunciar a famosa definição de quaestio de Ulpiano como se fossem tão eruditos como ele:

Por quaestio deve entender-se o suplício e o sofrimento do (infligido ao corpo com o fim de se descobrir a verdade.  Por conseguinte, nem o simples interrogatório nem as ameaças fortuitas se incluem neste edicto... Dado que a violência e o suplício são, portanto, as características da quaestio, é assim que quaestio deve ser entendida.”[56]

                        Naquela época acreditavam que através da tortura podia-se descobrir a verdade e purificar aqueles acusados de heresia.
                   Usando de seu poder, a Igreja Católica ouvia apenas a  sua  verdade. Conseguir uma confissão era mais importante do que saber se o acusado era inocente ou culpado:

“...uma investigação que é feita para se obter a verdade por meio  do suplício e do sofrimento do corpo”. Alguns juristas, seguindo a etimologia peculiar de Isidoro de Sevilha, enciclopedista do século VII, referiram também as conseqüências mentais da tortura, baseados na suposição de que tormentum teria derivado de torques mentem, a torção do espírito: dado que, através do sofrimento do corpo, o espírito fica perturbado.”[57]
                  
                   De acordo com o trecho anterior a personagem sofre dois tipos de tortura: a do corpo e a da alma.
                   A personagem depois de um certo tempo de tortura começa a apresentar sinais de perturbação, seu senso de realidade torna-se alterado., ela não sabe ao certo se está sonhando ou delirando.  Aqui os efeitos externos afetam internamente o protagonista, dando margem ao leitor de duvidar de algumas de suas descrições.
                   Os adjetivos utilizados no conto possuem quase todos um significado negativo, é freqüente o uso das palavras terrible e horrible.

“Yet, for a while, I saw but with how terrible an exaggeration! I saw the black-robed judges.”[58]

“... for what could be less importance, under the terrible circumstances which environed me, than the mere dimensions of my dungeon?[59]

“It was not that I feared to look upon  things horrible, but that I grew aghast lest there should be nothing to see.” [60]


                   Destaque para outra palavra que também é sinônimo de horrível, isto é, hediondo, que em inglês é hideous, ao longo do texto:

“... of tall figures that lifted and bore me in silence down - down - still down - till a hideous dizzziness oppressed me at the mere idea of the interminableness of the descent.”[61]

“It seemed evident that mine was not, at least, the most hideous of the fates.”[62]

“The entire surface  of this metallic enclosure was rudely daubed in all the hideous and repulsive devices to which the charnel superstition of the monks has given the rise.”[63]

                   Outros adjetivos são usados para aumentar as sensações de horror e medo, no caso, as palavras huge e enourmous:
“What I had taken for masonry seemed now to be iron, or some other metal, in huge plates, whose sutures or joints occasioned the depression.”[64]

“... I supposed to be the picture image of a hugependulum, such as we see on antique clocks.”[65]

“... I saw several enormous rats traversing it.” [66]

                   Destaque também para as palavras que aparecem durante toda a narrativa, e que poderiam ser até mesmo uma síntese do conto: horror e agony, pois The Pit and the Pendulum é sem dúvida um conto de horror a agonia, para sua personagem,  assim como foi para as verdadeiras vitímas da Inquisição, e também para os leitores que acompanham narração detalhada do protagonista.
                   A presença constante da palavra horror no texto, pode significar não apenas o horror da personagem presa em um calabouço enquanto aguarda seu julgamento que o levará faltamente para a morte, asim como o horror pelos vários crimes praticados pela Santa Inquisição, contra pessoas por muitas vezes inocentes, tendo o apoio da igreja.

“I saw, to my horror, that the pitcher had been removed. I say to my horror - for I was consumed with intolarable thirst.”[67]

“They tell also of a vague horror at my heart, on account of that heart's unnatural stillness.”[68]


“And now, as I still continued to step cautiously onward, there camo througing upon my  recollection a thousand vague rumours of the horrors of Toledo.”[69]


                   A atmosfera gótica é criada pelas palavras darkness, blackness e night, dando o tom denso e escuro no conto.
                   A maioria das palavras utilizadas pelo autor possuem um significado negativo e que juntamento com outras palavras classificadas de góticas, produzem uma atmosfera de terror.
                   O que torna esse conto de terror diferente é que em alguns momentos para contrabalancear a estória, a personagem principal consegue escapar da morte três vezes, fazendo com que o leitor consiga respirar novamente durante essas fugas junto com o protagonista.
                   The Pit and the Pendulum  lembra em algumas de suas passagens, um poema ritimado, efeito conseguido através de repetições e aliterações, assim como o uso constante de travessões no lugar das vírgulas.
                   Os pontos de exclamação enfatizam a surpresa da personagem quando esta consegue escapar diversas vezes da morte.
                   O uso dos travessões ainda indica o movimento do próprio pêndulo, lento e torturante, que vai e volta:

“What boots it to tell of the long, long hours of horror more than mortal, during which I counted the rushing oscillations of the steel! Inch by inch - line by line - with a descent only appreciable at intervals that seemed ages - down and still donw it came! Days passed - it might have been that many days passed - ere it swept so closely over me as to fan me with its acrid breath. The odour of the sharp steel forced itself into my nostrils.” [70]


   
                   Por sua vez o poço, e a sensação de estar nas profundezas do inferno fica marcada pelo uso da palavra down:

Down - certainly, relentlessly down! It vibrated within three inches of my bosom! I struggled violently, furiously - to free my left arm” [71]


Down - still unceasingly - still inevitably down! I gasped and struggled at each vibration.   I shrunk convulsively at its every sweep.”[72]

                   A palavra down produz uma rima final, levando o leitor para dentro da cela ou de um poço juntamente com a personagem, cada vez mais fundo, fazendo o leitor participar da luta daquele que tenta escapar.
                   Essa preocupação com o uso das palavras fica evidente já no início do conto com a grafia em maísculo de uma palavra, enfatizando uma ação ou um período que faz parte do passado, ou ainda de algo que vinha acontecendo por um longo tempo:

“I WAS sick - sick unto death with that long agony; ...” [73]

                        O uso da palavra free com destaque em itálico ou seguida por um ponto de exclamação, demosntrando surpresa, o acontecimento de algo incrível, indicando que por um milagre a personagem consegue escapar do morte sob o pêndulo:

“I at lenght felt that I was free...”[74]

“For the moment, at least, I was free...[75]

“Free! - and in the grasp of the Inquisition!”[76]

“Free! - I had but escaped death in one form of agony, to be delivered unto worse than death in some other.”[77]
                  
                   A rima interna é formada pela sílaba -ly dando musicalidade e movimento à estória, como se fosse mais um dos poemas de Poe., mais uma vez o movimento do pêndulo é lembrado, dessa vez pelo som das palavras e não apenas com o uso dos travessões:

“...- still unceasingly - still inevitably down! I gasped and struggled at each vibration.   I shrunk convulsively at its every sweep.”[78]

                   Nota-se a presença de algumas palavras grafadas no meio do texto com letras maíusculas, o que acaba chamando a atenção, como é o caso das palavras como o destino e  tempo, e em dois outros trechos destaque para um dos ordálios, considerado o pior de todos, o poço. E para o rei dos horrores.  Quem seria esse rei? O poço ou própria Inquisição?

“I saw that the decrees of that to me was Fate were still issuing from those lips.”[79]

“It was the painted figure of Time as he is commonly represented...”[80]

“... typical of hell and regarded by rumour as the Ultimate Thule of all their punishments.”[81]

“The Inquisitorial vengeance had been hurried by my two-fold escape, and there was to be no more dallying with the King of Terrors.”[82]


                   A palavra morte largamente utilizada no conto indica para onde a estória se encaminha, dando quase que absoluta certeza de qual será o fim da personagem, e ao mesmo tempo demonstra qual foi o real objetivo da Santa Inquisição, apesar desta declarar que salvar as almas era o sua missão.
                   O ar fúnebre também pode significar a exploração do autor no que diz respeito ao medo que quase todas as pessoas tem da morte, o terror que sentimos em relação a essa palavra.  A palavra morte acaba por causar um efeito pertubador e quase tão sufocente quanto as paredes do calabouço onde a personagem encontra-se presa.
        
“The sentence - the dread sentence of death - was the last of distinct accentuation which reached my ears.”[83]

“In the deepest slumber - no! In delirium - no! In a swoon - no! In death - no! even in the grave all is not lost.”[84]

“That the result would be death, and a death of more than costumary bitterness, I knew too well the character of my judges to doubt.”[85]

“And the death just avoid was of that very character which I had regarded as fabulous and frivolous in the tales respecting the Inquisition.”[86]

“... there was the choice of death with its direst physical agonies, or death with its most hideous moral horrors.”[87]

“The plunge into this pit I had avoided by the merest of accidents, and I knew that surprise, or entrapment into torment, formed an important portion of all the grotesquerie of these dugeon deaths.”[88]

“And then I fell suddenly calm, and lay smiling at the glittering death, as a child at some rare bauble.”[89]

“... they closed themselves spasmodically at the descent, although death would have been a relief, oh, how unspeakable!”[90]

“I had but escape death in one form of agony, to be delivered unto worse than death in some other.”[91]

“Death, 'I said, 'any death but that of the pit!”[92]

                   Com todo o clima fatalista evidenciado através das palavras morte, horror, agonia e punição, o final seria naturalmente trágico, eis que surge a dúvida pois palavras como free, citada anteriormente,  e hope, que aparecem durante a narração do protagonista, uma pista de que pode haver uma saída, uma forma de escapar da morte:

“It was hope that prompted the nerve to quiver - the frame to shrink. It was hope - the hope that triumphs on the rack...”[93]

“Dreading to find my  faint and, as it seemed, my last hope frutrated, I so far elevated my  head as to obtain a distinct view of my breast.”[94]

                   Todo o efeito produzido, a combinação entre a morte de um prisioneiro da Inquisição mas com a possibilidade mesmo que mínima, marcada pelas vezes que a personagem consegue escapar da morte, produzem a fórmula  vai de encontro com a teoria de Edgar Allan Poe sobre o conto:

“concebido, com cuidado deliberado, um certo efeito único e singular a ser elaborado, ele então inventa tais incidentes e combina tais acontecimentos de forma a melhor ajudá-lo a estabelecer este efeito preconcebido.  Se sua primeira frase não tende à concretização deste efeito, então ele falhou em seu primeiro passo.  Em toda a composição não deve haver nenhuma palavra escrita cuja a tendência, direta ou indireta, não esteja a serviço deste desígnio preestabelecido.”[95]

                  
                   O que pretende o autor com essa técnica? Causar o efeito de terror sobre as pessoas que lêem o conto, controlando mesmo que por um momento apenas, as sensações do leitor.
                   Também faz parte da estória uma boa dose de suspense, o que torna possível que o leitor prenda sua respiração até o momento que a personagem livra-se do perigo.
                   Através da tortura de sua personagem o escritor também tortura seus leitores através das palavras, criando expectativas durante a narrativa do conto, fazendo dessa forma surgir o suspense a respeito da personagem, o leitor começa a se perguntar se ele, o protagonista, conseguirá escapar ou não.
                   Tudo é pensado de maneira milimétrica, o uso das palavras buscam esse efeito, que pode ser a sensação claustrofobia, de estar cercado pela morte, ou de ser castigado injustamente.
                   O horror, a escuridão, a agonia, a noite, a morte, vivenciados pela personagem em The Pit and the Pendulum, são os elementos góticos utilizados e aperfeiçoados por Poe para alcançar o efeito sufocante, através da experiência do protagonista enclausurado em um calabouço da Santa Inquisição.   Todas essas sensações tornam-se mais fortes quando somadas ao sentimento de injustiça ao lermos a quadra do início do conto, onde inocentes torturados e mortos pela Inquisição, estavam agora livres do seu carrasco.


2.3 O poço, o pêndulo e o inferno


“Ai,de vós, almas condenadas! O Céu  jamais vereis. Por mim levadas à treva eterna dessa outra margem, sereis em gelo e fogo perpetuamente mergulhadas.” [96]


                   Talvez o Inferno de Dante seja a melhor e mais conhecida descrição literária do inferno, um lugar para o castigo eterno dos impíos.
                   O inferno faz parte da crença religiosa de muitas pessoas, em diferentes partes do mundo.  Uma das razões para a existência dessa crença tem sido a relutância do ser humano em aceitar o fim da vida sobre a terra, a vida deveria ser eterna.
                   Acredita-se que o inferno seja um lugar de punição, punição que pode ser eterna ou temporária.  Culturas antigas freqüentemente viam a morte mais como uma recompensa do que como uma forma de punição.  Em religiões primitivas como a dos índios americanos, a morte seria uma maneira de conviver com seus ancestrais, existiria um local divino onde seria possível viver com outras almas.
                   Em Israel na antigüidade, o inferno era um lugar chamado Sheol, com aspecto escuro e melancólico, mas não um lugar de punição.
                   O Hades (originalmente o nome do deus grego a quem pertencia esse lugar), inferno para gregos, também não sugeria punição.  Era um reino subterrâneo e escuro, para onde os mortos eram conduzidos através de um rio por Hermes (Mercúrio para os romanos).
                   Mais tarde os gregos criaram um lugar chamado Tártaro, que ficava abaixo do Hades, onde os maldosos eram atormentados, castigados.
                   A palavra hell (inferno em inglês) vem do anglo-saxão “concealed”, que significa: lugar escondido nas regiões mais quentes do centro da Terra.
                   Na mitologia nórdica, Hel era o nome dado ao mundo dos mortos, um lugar reservado para os maus, diferente do Valhalla, para onde iam os guerreiros que morriam em grandes batalhas.
                   O conceito de inferno baseia-se na idéia de justiça.  Seria a resposta para a seguinte pergunta: para onde iriam as pessoas que praticaram o mal durante toda suas vidas e que nunca foram castigadas por isso? Quando elas teriam aquilo que realmente mereciam? A resposta seria: somente após a morte, ou seja, seria necessário um lugar onde a justiça fosse feita,  o inferno.
                   No mundo ocidental moderno, o inferno tem sua origem no último período da história antiga de Israel, que foi mais tarde difundida pelos primeiros cristãos.  A idéia de tal lugar na bíblia hebraica, ou o Velho Testamento, possui uma breve referência em Daniel.  Esse lugar reservado para os maus após a morte era chamado de Gehenna pelos judeus. Descrito como um lugar de punição temporário, similar ao purgatório dos católicos romanos.
                   Quando o cristianismo já estava estabelecido, o purgatório tornou-se um lugar de castigo permanente.  Os tormentos infligidos no purgatório eram grandes projeções imaginárias das piores torturas planejadas no plano terrestre.  O fogo eterno, era a punição mais comum, embora o frio perpétuo também fosse aceito.
                   Não existem estudos mais completos  no Novo Testamento sobre o inferno, embora ele seja freqüentemente mencionado.  Somente na história mais recente da igreja foi elaborado algo a respeito dentro de sua doutrina oficial.  Hoje, o Novo Testamento e suas explicações são tomadas literalmente por muitos cristãos, considerada como apenas uma alegoria ou mito por alguns e totalmente negada por outros.
                   No islamismo não há muita coisa sobre o assunto.  O inferno é considerado às vezes como um lugar permanente em algumas passagens do Alcorão, e temporária em outras.
                   O hinduísmo aceita essa possibilidade, a existência de um inferno, mas não é considerada muito importante, seria apenas mais um lugar de passagem para a longa caminhada da alma. Para muitas escolas budistas o inferno é uma fase transitória onde os pecados são purgados.
                   Dentro do conto podemos considerar a presença do inferno como forma de punição em alguns momentos.  Um dos  castigos aplicado na personagem, depois da prisão, pelos seus carrascos é o poço:

“My  cognizance of the pit had become known to the inquisitorial agents - the pit, whose horrors had been  destined for so bold a recusant as myself - the pit, typical of hell and regarded by rumour as the Ultima Thule of all their punishments. The plunge into this pit I had avoided by the merest of accidents, and I knew that surprise, or entrapment into torment, formed an important portion of all the grotesquerie of these dungeon deaths. ”[97]


                   O poço segundo o protagonista é o inferno criado pelos inquisidores como uma das formas de punição para seus prisioneiros, já  que o  inferno é considerado pelos católicos como um lugar reservado para pecadores de todos os tipos, os carrascos a sua maneira criam o seu próprio inferno, utilizado como um método de julgamento.

“No Inferno se encontram as imagens do pesadelo, do bode expiatório, da dor, da confusão; ali se desvelam monuntos da loucura, a terra devastada...
É o mundo do auto-de-fé, da cidade em chamas, um mundo de tirania um mundo de tirania e opressão, mundo da anacronia.”[98]

                  O inferno como a descida não apenas física mas também moral dos homens, seria o encontro com algo de grande horror para o prisioneiro do conto.
                   No local em que a personagem se encontra , ao olhar de cima para baixo, a imagem que ele descreve é a do inferno.
                   Por pura sorte o protagonista consegue escapar, ao escorregar e cair no chão percebe a existência do poço, conseguindo dessa foram escapar do inferno preparado pela Inquisição.
                   Mais adiante, seus carrascos o prendem debaixo de um pêndulo. Aqui o inferno surge  visto por um ângulo diferente, vem de cima o seu castigo, o pêndulo, tido como o pior dos castigos, segundo a personagem.  Esse objeto de metal também lembra a imagem do pêndulo de um relógio, marcando o tempo que se esgota a medida que ele vai descendo. Aumentando sua velocidade, a vida de sua vitíma tem o tempo reduzido.
                   Vale a pena ressaltar a importância do tempo na estória, pois ele parece estar sempre se esgotando para a personagem, e o pêndulo o faz lembrar desse detalhe, não apenas por causa da sua forma mas também pelo seu som de relógio.

“In  one of its panels a very singular figure riveted my whole attention. It was the painted figure of Time as he is commonly represented, save that, in lieu of a scythe, he held what, at a casual glance, I supposed to be the pictured image of a huge peundulum, such as we see on antique clocks.”[99]


                   À medida que o pêndulo vai baixando a tensão do conto  vai aumentando. O que teria feito essa personagem para merecer os piores castigos, durante seu relato parece que ele é apenas mais um condenado injustamente pela Inquisição. 
                   Um outro tipo de inferno é colocado diante da personagem, não importa se ele vem de cima, pois seu significado continua o mesmo, punição, dor, e por fim a morte.
        


        
CONSIDERAÇÕES  FINAIS

                  
                   O terror na obra de Edgar Allan Poe torna-se uma fonte inesgotável de pesquisa e análise. 
                   Não apenas os contos analisados nessa monografia, mas toda a prosa de Edgar Allan Poe tem sua base apoiada no fantástico e na sua capacidade de intensificar as características psicológicas dos seres humanos: alucinações exageradas, mentes agitadas e fértis em imaginação, personagens neuróticas, o bem e o mal dentro de cada homem.
                   O mundo real é transportado através das palavras do escritor para um mundo irreal, onde os elementos comuns da vida são colocados em cenários escuros, sufocantes e repletos de elementos de morte e fatalidade.
                   Seus  contos mergulham no lado desconhecido da alma humana, que é revelado em momentos de extremo terror, acionados pelo medo surgido de um objeto ou alguma parte do corpo humano.
                   Edgar Allan Poe aperfeiçou o que chama-se hoje de gótico,  não apenas por utilizar os elementos característicos desse tipo literatura, como lugares escuros e os acontecimentos sobrenaturais para criar medo e suspense, mas por fazer com que outros detalhes ou elementos pudessem ser classificados como góticos.  Como por exemplo, o olho em The Tell-Tale Heart, e a loucara gerada pela presença desse elemento considerado diabólico pelo protagonista do conto, ou ainda, a prisão de um inocente pela Inquisição espanhola e seus métodos de tortura.  Tudo isso mesclado ao tema do morte e do medo durante as narrativas.
                   Seu poder de descrição é outro fator de grande importância, com o qual ele consegue criar também o efeito de medo sobre seus leitores.   Os eventos nada comuns sofridos por suas personagens são o ponto de partida para o acontecimento de coisas horríveis e inesperadas.
                   O sobrenatural representado  em The Tell-Tale Heart pelo olho diabólico imaginado pelo protagnista, desencadea um clima de vigilância, incomodando a personagem  ao ponto de levá-la a loucura, e com um ato desesperado para livrar-se do mal, ela comete assassinato.  O medo da personagem é que os outros acreditem que ela está louca, e para evitar essa opinião, a personagem narra detalhadamente todos os seus pensamentos e movimentos, desde o primeiro momento em que percebeu a presença do mal, até o momento que se declara culpado diante dos policiais, que sem a sua confissão provavelmente não descobririam o seu crime.

                    

(REFAZendo)

Bibliografia


1.  NOVAES, Adalto (org.) O Olharvários autores,  6º Edição, Editora Companhia das Letras, São Paulo,  1997.
2.  FOUCAULT, Michel-  Vigiar e Punir, Editora Vozes, 23ª edição, Rio de Janeiro, 1987.
3.  STOKER, Bram - Dracula, Editora Signet Classic, U.S.A., 1992.
4.  GOTLIB, Nádia Batella - Teoria do Conto, Série Princípios,  Editora Ática, 7ª edição, São Paulo, 1995
5.  KUNZE, Micheal - A caminho da fogueira, Círculo do Livro, São Paulo, 1992.
6.  POE, Edgar Allan - Selected Tales, Penguin Popular Classics, Editora Penguin Books, Inglaterra, 1994.
7.  NOVINSKY, Anita - Inquisição, Editora Expressão, sem data, São Paulo.
8.  PETERS, Edward - História da Tortura,  Editora Moderna, São Paulo, 1986.
9.  HALEVI,  Zév ben Shimon - O Ungido, Círculo do Livro, São Paulo, 1987.
10.PEREIRA, João Frayze - O que é Loucura, Editora Abril Cultural/Brasiliense, São Paulo, 1985



[1] FAYGA, Ostrower - A Construção do Olhar, In: NOVAES, Adauto (org.).  O Olhar, São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 173
[2] FAYGA, Ostrower - A Construção do Olhar,  In: NOVAES, Adauto (org.).  O Olhar, São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 177.
[3] BORHEIM, Gerard A. - As Metamorfoses do Olhar, In: NOVAES, Adauto (org.). O Olhar, São Paulo: Companhia das Letras, 1997,  p. 90.
[4]BORHEIM, Gerard A. - As Metamorfoses do Olhar, In: NOVAES, Adauto (org.).  O Olhar, São Paulo: Copmanhia das Letras, 1997,  p. 92
[5]BORHEIM, Gerard A. - As Metamorfoses do Olhar, In NOVAES, Adauto (org.). O Olhar, São Paulo: Companhia das Letras, 1997,  p. 89
[6]POE, Edgar Allan  - The Tell-Tale Heart, In: Edgar Allan Poe, Selected Tales, London: Penguin Popular Classics, 1994,  p. 267
[7]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 267.
[8]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 267.
[9]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 268.
[10]POE, Edgar Allan. Op. cit., 270.
[11]POE, Edgar Allan. Op. cit., 270.
[12]FOUCAULT, Michel - Vigiar e Punir, 23 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.  1. ed. em 1975, p. 177.
[13]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 270.
[14]LANDA, Fábio - Olhar-Louco, In: NOVAES, Adalto. O Olhar, São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 426.
[15] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 267
[16] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 267
[17] PEREIRA, João Frayze - O que é Loucura, São Paulo: Brasiliense, 1985,  p. 10.
[18] FRIEDMAN, Norman - Point of View in Fiction: the development of a critical concept.  In: STEVICK, Philip (ed.) Theory of the novel. New York: The Free Press, s.d. p. 126.
[19] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 267.
[20] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 267.
[21] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 267.
[22] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 267.
[23]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 269.
[24]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 267.
[25] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 269.
[26] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 271.
[27] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 267.
[28] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 268.
[29] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 268.
[30] POE, Edgar Allan. Op. cit.,  p. 268.
[31] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 270.
[32] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 268.
[33]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 269.
[34]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 270.
[35]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 268.
[36]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 270.
[37]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 269.
[38]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 268.
[39]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 269.
[40]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 270.
[41]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 268.
[42]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 269.
1PETERS, Edward  -  História da Tortura,  ed. 1. São Paulo: Moderna, 1994, p.74.
2POE, Edgar Allan, The Pit and the Pendulum, In: Edgar Allan Poe, Selected Tales, London: Penguin Popular Classics, 1994,  p.251.
3POE, Edgar Allan. Op. cit., p.257.
1KUNZE, Michael, A Caminho da Fogueira. São Paulo: Círculo do Livro, 1992,  p. 359.
2KUNZE, Michael, A Caminho da Fogueira. São Paulo: Círculo do Livro, 1992,  p. 386.
[43]POE, Edgar Allan. Op. cit., p.  254.
[44]NOVINSKY, Anita - A Inquisição, 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 1996. 1ª edição 1982, p. 66.
[45]FOUCAULT, Michel.  Vigiar e Punir. 23 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2000, 1ª edição 1987, p. 200
[46]FOUCAULT, Michel . Vigiar e Punir, p. 35.
[47]FOUCAULT, Michel . Vigiar e Punir, p. 20.
[48]FOUCAULT, Michel . Vigiar e Punir, pa'g. 31.
[49]FOUCAULT, Michel - Vigiar e Punir, p. 14.
[50]FOUCAULT, Michel - Vigiar e Punir, p. 13.
[51]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 251.
[52]NOVINSKY, Anita - A Inquisição, 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 1996, 1ª edição em 1982, p. 24.
[53]HALEVI, Z've ben Shimon - O Ungido, São Paulo: Círculo do Livro, 1987, p. 12.
[54]NOVINSKY, Anita - A Inquisição, 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 1996. 1ª edição 1987, p. 27.
[55]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 254.
[56]PETERS, Edward . História da Tortura, São Paulo: Moderna, 1986, p. 68.
[57]PETERS, Edward. História da Tortura, São Paulo: Moderna, 1986, p. 68.
[58]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 251.
[59]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 258.
[60]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 253.
[61]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 253.
[62]POE, Edgar Allan. Op. cit.,  p. 254.
[63]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 258.
[64]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 258.
[65]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 259.
[66]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 259.
[67]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 259.
[68]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 253.
[69]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 254.
[70]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 260.
[71]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 262.
[72]POE, Edgar Allan. Op. cit.,  p. 262.
[73]POE, Edgar Allan. Op. cit., p.  251.
[74]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 264.
[75]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 264.
[76]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 264.
[77]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 264.
[78]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 262.
[79]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 251.
[80]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 259.
[81]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 260.
[82]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 266.
[83]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 251.
[84]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 252.
[85]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 255.
[86]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 257.
[87]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 257.
[88]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 260.
[89]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 260.
[90]POE, Edgar Allan. Op. cit.,  p. 262.
[91] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 264.
[92] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 266.
[93] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 262.
[94] POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 262.
[95]GOTLIB, Nádia Batella - Teoria do Conto, 7 ed. São Paulo: Ática, 1995, p. 35.
[96]DANTE, Alighieri - A Divina Comédia, São Paulo: Nova Cultura, 1993,  p. 35
[97]POE, Edgar Allan. Op. cit.,  p. 260.
[98]AGUIAR, Flávio - Visões do Inferno ou o Retorno da Aura, In: NOVAES, Adalto, O Olhar, 6 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 322.
[99]POE, Edgar Allan. Op. cit., p. 259.